Onde está a raiz do mal?
A raiz das dificuldades com que Portugal se debate assenta no facto de o país se ter “especializado”, durante demasiado tempo, em produções assentes em mão-de-obra barata e trabalho pouco qualificado e precário. A economia portuguesa foi sujeita a fortes constrangimentos desde a integração europeia, mais tarde exacerbados pela participação no euro e depois pelo alargamento da UE e pelo aprofundamento da globalização económica.
Não houve respostas adequadas do lado das políticas públicas e muito menos do sector privado. As empresas, pressionadas por um contexto de maior concorrência, em vez de adoptarem estratégias de valorização produtiva, de inovação, de elevação do nível de qualificação da mão-de-obra, procuraram a compressão dos custos, a precarização dos empregos e a redução dos direitos laborais. O resultado foi a ineficiência do sector produtivo privado, a qual é bem mais grave e estrutural que a do sector público.
In Diário de Noticias 3/07/2005
Continua-se a atribuir ao sector público as raízes do mal da economia e vamos fechando os olhos a um sector privado que nada faz para que os índices da mesma melhorem. Vão atirando para cima do sector público e nomeadamente da administração pública os seus males e até a sua incompetência, encobrindo uma vasta gama de regalias que os seus administradores e uma grande parte dos quadros intermédios usufruem à custa dos próprios trabalhadores e a favor do lucro do patronato.
Nesta gama de privilegiados o que se vê; os carros da empresa por conta deles, as viagens de sonho à custa da empresa, as prendas para os filhos no natal, os subsídios para ajudas de custo dos filhos na escola, ajudas nisto e naquilo para uns poucos que vão dizendo e convencendo os trabalhadores nas suas empresas que se eles estão mal a culpa é do sector público.
O nosso sector privado e principalmente o nosso patronato não arrisca em projectos inovadores que tenham um factor de risco elevado e o que fazem é dinamizado pelo sector público à procura das migalhas dos subsídios.
Continuamos a pedir sacrifícios sempre aos mesmos e fechando os olhos a um poder instalado do sector privado que procura só o lucro pelo lucro.
É preciso que o sector privado também contribua para o bem-estar desta sociedade sem rumo e se deixe das falsidades, assumindo o seu papel na contribuição dos índices de produtividade para a real melhoria do país.
Ag