setembro 22, 2006

Medo



Medo....

As férias passaram, o regresso à escola aconteceu e o medo paira no ar…

Acontece, que em pleno séc. XXI a classe dos professores que até há bem pouco tempo era considerada e estimada começa a ter medo das medidas que o M.E. (Ministério da Educação) vem anunciando à mistura com uma dose de sensacionalismo da comunicação social e uma certa agressividade por parte da sociedade.

O que foi anunciado o ano transacto e o que vai a discussão para a opinião pública sobre o ECD (Estatuto da Carreira Docente) é de meter medo e cria insegurança na classe docente que ultimamente muito maltratada tem sido.

O que faz o M.E. para alterar o ECD?

Pela voz da ministra anuncia que os professores faltam muito e por isso vai alterar o ECD. Veio-se a saber mais tarde, que afinal os professores faltam tanto como outra classe profissional, situando-se mesmo no meio da tabela do referido estudo. Como aconteceu? O M.E. em vez de contabilizar por dias as faltas ao trabalho, contabilizou-as e anunciou-as na comunicação social por horas, o que dá a entender uma certa maldade de quem no faz. Esta foi a imagem transmitida (os professores faltam muito) e já ninguém se lembra do desdito e é assim com esta "mentira" que a classe docente é vista e lembrada.

Mesmo assim, esqueceu-se o M.E. e principalmente a ministra que a classe docente é constituída por cerca de 90% de professores do sexo feminino, que também são mães com filhos. Segundo um estudo (não confirmado), a classe profissional que mais contribui para a natalidade é a classe docente feminina com 2 a 3 filhos, mais concretamente 2,3 filhos por mulher, muito acima da média nacional (1,4 filhos por mulher). Então sendo a classe docente constituída por cerca de 90% de professores do sexo feminino e sendo esta uma das classes profissionais que mais filhos têm, é muito natural que as mães faltem quando um dos seus filhos adoece. Embora não faltem assim tanto como o fizeram parecer e segundo o desdito dos sindicatos sobre as faltas.

Vem isto a propósito, por causa de um plenário que o sindicato dos professores da Região Centro vai fazer no dia 22 de Setembro por toda a Região Centro. Sendo eu delegado informei os colegas que a falta para ir ao plenário não tem ainda os tais efeitos que a ministra e a comunicação social vão anunciando. O que me dizem, “não vou porque tenho medo”: medo das consequências futuras como vem sendo anunciado, medo de não subir de escalão mesmo que seja um óptimo professor, medo de uma falta injustificada que pode trazer consequências graves, medo de não deixar planos, medo de retaliações do “Conselho Executivo”, medo enfim…do ECD.

Com este clima.... não me parece, que existam as melhores condições para um bom desempenho por parte desta classe profissional.

Do Blog Arte por um Canudo 2
Por Ag

1 comentário:

ocontradito disse...

Há semanas atrás, escrevi aqui que a proposta de novo Estatuto (ou revisão do anterior) da Carreira Docente enfermava de uma omissão: a redefinição de um “direito” dos docentes a que se designava de “interrupção da actividade docente”.

Uma coisa muito difusa que, convenientemente interpretada, dava mais 30 dias de férias aos professores. Para além dos dias de férias “normais”.

Felizmente, o Ministério não tinha dado por terminado o seu trabalho. Assim, após alguma audição com os sindicatos, não se limitou a limar arestas à proposta apresentada. Introduziu melhorias importantes nesta área.

1)Fim da interrupção das actividades docentes: Erradicada. e BEM.

Mantêm-se as já existentes interrupções das actividades lectivas. Os períodos em que os alunos, ou não estão nas escolas ou lá estão em actividades de lazer e/ou ocupação de tempos livres, recuperação curricular, etc. Devidamente enquadrados pelos professores (é uma das suas funções – docentes – não lectivas).

2)Fim da possibilidade das direcções escolares poderem não convocar os professores, nesses períodos, para o desenvolvimento de outras actividades não lectivas, antes consagrada no documento.

Agora, as opções estão resumidas às listadas: formação pessoal e trabalho na escola. E o horário? O normal. Igual ao de todos os funcionários que não estão em férias.


O ECD está muitíssimo melhor. Será, mesmo, um enorme passo em frente na melhoria do nosso ensino. Parabéns à ministra e sua equipa.

Apenas um senão: a avaliação docente.

Considero um erro o sistema de avaliação proposto. É tão complicado e exaustivo que trará muita burocracia ao sistema. E lá estaremos, mais uma vez, a acrescentar e utilizar recursos (avaliadores, inspectores, procedimentos e burocracias sem fim) com vista a um objectivo (classificar professores individualmente) totalmente desligado e irrelevante para os alunos e para o seu sucesso. Ao longo do ano, em vez de se preocuparem com a qualidade e produtividade do ensino ministrado, teremos uma escola centrada na avaliação dos seus docentes: inspectores internos e externos, papelada sem fim, reclamações, invejas e discussões, recursos e protestos. Tudo e todos à volta de um processo (avaliação individual de docente) que vai sorver recursos e atenções, muito melhor gastos se centrados no que realmente interessa: a melhoria dos processos e no aumento da produtividade da Escola.

Erro, porquê?

Simplesmente porque de nada adianta classificar os professores. Se é para escolher quem progride na carreira, há outras formas mais simples.

A classificação dos professores não determinará (por si só) restrições ao progresso na carreira. As quotas sim. Pelo que… havendo quotas, torna-se desnecessário dizer quem é Bom, Suficiente ou Muito Bom.

As quotas são fundamentais. Seleccionam os profissionais de topo.
É fundamental que o progresso na carreira seja um prémio para quem cumpre… para além dos mínimos.

Quem cumpre, terá direito ao seu ordenado. Quem se excede será promovido. Este é o objectivo. Mas, poderá ser atingido de outra forma mais simples:

Assim, estariam aptos a progredir os docentes que:

1) Estivessem dentro de uma quota de promoções anuais a atribuir a cada escola. Essa quota seria variável, em torno de um valor base de 1/18 do número de professores do quadro (1/3 do quadro, de seis em seis anos). Variaria entre 1/14 e 1/22 consoante os resultados DA ESCOLA nos exames nacionais. Não do valor absoluto dos resultados, mas da sua EVOLUÇÃO, em relação ao ano anterior, no ranking nacional. Os exames nacionais no final de todos os ciclos seriam implementados imediatamente. Escolas em "subida" nos rankings teriam mais professores promovidos. Escolas "descendentes" menos...

2) Atingissem 6 ou mais anos passados após a última progressão de escalão. Seriam sempre descontados os anos em que a abstenção tivesse sido superior à máxima admissível (3%). Um sistema de compensação de faltas (substituição de um professor faltoso por outro da mesma turma que daria uma sua aula - do substituto e não do substituído) seria determinante na flexibilidade do processo, esvaziando a argumentação sindical actual…

3) Estivessem naquela escola há 3 ou mais anos, completos.

4) Efectuassem uma formação anual de 25 horas, incluindo uma formação específica a definir pelo Ministério, em termos de conteúdo e em função do escalão.

Se o número de docentes encontrados, cumpridores destes critérios, for superior ao da quota de progressão atribuído à Escola, bastaria efectuar uma seriação por voto secreto em que entrariam todos os restantes docentes do quadro (os não interessados naquele ano). Aqui, o trabalho e outras características qualitativas viriam ao de cima. Avaliadas pelos colegas, com quem trabalham...

Os que não progredissem nesse ano, serão, normalmente, candidatos no ano seguinte.

Este sistema traria inúmeras vantagens:

Torna desnecessária a separação dos professores (titulares, dos outros).
Assegura a progressão só para alguns: os mais cumpridores.
Determina quotas de progressão em função da produtividade da Escola.
Simplifica processos.
Não introduz mais burocracia e objectivos laterais aos da Escola.
Torna desnecessário determinações de não progressão de destacados, requisitados e outros: fora da escola, não é candidato a promoção.
Valoriza as escolas mais isoladas e difíceis (onde o “espaço” de melhoria e evolução é maior).
Valoriza a fixação de docentes numa Escola.
Valoriza o trabalho de grupo ao invés do trabalho pessoal.
Pressiona os “patinhos feios” que não “jogam em equipa” e prejudicam o todo a trabalharem mais e melhor.

Haverá ainda tempo (e interesse) em cortar por aqui?