Vimos neste Papa velho e doente uma confirmação viva da sua pregação sobre o valor de toda a vida humana.
Um punhado de Óscares teve o filme “Million Dollar Baby”, onde se relata a vida de uma pugilista que fica paralítica e pede ao seu treinador que a ajude a pôr fim à sua vida. Enquanto este filme atraiu espectadores em todo o mundo, no Vaticano viveu-se nestes últimos meses o drama oposto.
Tal como a personagem que Hillary Swank encarna no filme de Clint Eastwood, também Karol Wojtyla teve noutros tempos um vigor invejável. Era o Papa viajante que visitou 117 países e que fez com que construíssem uma piscina na sua residência de verão. A fortaleza física era a sua marca.
Podemos contrapor a personagem de Swank, que assume a depressão quando um golpe sujo a deixa paralítica, e João Paulo II, que atacado por Parkinson fez do seu padecimento um dom e o aproveitou para abrir um novo capítulo no seu Pontificado.
Outro Óscar deste ano foi para o filme espanhol “Mar Adentro”, que representa sob uma mentalidade favorável ao suicídio – com cooperação alheia – a vida de um inválido tetraplégico. Em todo o mundo vive-se um relativismo sofisticado – mais nuns países que noutros – nas questões morais, por isso a Igreja Católica com este Papa assumiu sempre o papel de oposição oficial.
João Paulo II defendeu incansavelmente o valor sagrado da vida humana desde a concepção até à morte natural. Tornou-se um legado do que chamou o “evangelho da vida”, em oposição à “cultura da morte”. A Parkinson devia ter posto fim à sua campanha, forçando-o a isolar-se na sua debilidade. Mas o Papa fez com que a doença reorientasse todo o seu pontificado, colocando-se ele próprio como exemplo vivo da mensagem que nos deixou.
Disse-o expressamente em 1995: “o Papa deve sofrer para que todas as famílias e o mundo inteiro vejam que há um evangelho, direi eu, mais alto – o evangelho do sofrimento com o qual cada um deve preparar o futuro”.Assim, o Papa afastou sempre as sugestões de que se devia retirar. “Cristo baixou da Cruz?” perguntou em certa ocasião. Muitos cristãos viram nele o próprio sofrimento de Cristo.
O cristianismo dá um significado especial à dor. O sofrimento vê-se na união entre a experiência humana e a de Cristo. Ele não venceu com o poder terreno, mas obteve uma vitória maior. O crucifixo fala-nos de um triunfo espiritual através de uma derrota aos olhos do mundo.
Voltando à comparação com o argumento de “Million Dollar Baby”, pode-se dizer que as cenas da pugilista frustrada e desesperada na sua cama do hospital, opõem-se à vida real no Vaticano, onde um homem de 85 anos com uma doença que o debilita e com uma traqueotomia, persevera firme no cumprimento do seu dever.
O argumento de que o Papa esteve demasiado doente para dirigir o Vaticano foi disparatado. A Igreja Católica não é uma empresa multinacional, as igrejas locais não se dirigem desde Roma, pois quem as sustêm são os fiéis. Podem continuar a funcionar sem o Santo Padre.
E, sobretudo, o Papa, por meio do seu sofrimento, fez chegar a sua mensagem a mais gente que qualquer sacerdote, sermão ou livro, fazendo uso pleno do poder da televisão.
Não serão muitos os que leram “Salvifici dolores”, a carta que o Papa escreveu sobre o poder redentor do sofrimento. Mas os milhões que agora o viram podem comprovar que a mensagem chave do Papa se tornou mais clara que nunca: o corpo humano pode ser frágil, mas a vida humana é sagrada e o espírito humano é indomável.
CT
abril 02, 2005
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4 comentários:
Caro Carlos
O teu post suscitar-me-ia um número considerável de questões, uma vez que, como sabes, discordo drasticamente da tua visão sobre o papel da Igreja, do Papa, dos seus dogmas, sobre a eutanásia (questiono-me, por exemplo sobre o que entenderás tu por "morte natural"), etc, etc. Mas hoje, prefiro curvar-me respeitosamente perante a morte de um ser humano que, como qualquer outro me merece a maior consideração. Um abraço, Jorge Lourenço.
Ps: não deixo de registar com algum desconforto que o Presidente da República Portuguesa (que como sabemo é um estado laico) tenha feito uma comunicação ao país a propósito da morte do Papa. Não me lembro que este, ou algum outro Presidente da República, ou Primeiro-ministro o tenha feito a propósito da morte de nenhum outro líder religioso ou chefe de estado...
Presto a minha homenagem ao homem que como qualquer homem merece toda a minha consideração e solidarizo-me com o pesar de milhões de católicos e não só.Mas com ouvi alguém dizer que o "Papa já toca Deus", mais vale assim e ficar a seu lado.Ag
O Papa era um justo, como a um justo o faria...presto a minha homenagem aquele que me alegrou e fez com que muitos jovens o seguissem, quer queiram quer não, o futuro é da juventude e se um homem como o Papa os apriximou, ´s sinal que é forte o seu chamamento, a sua ultima mensagens foi para eles.
A criatura falou e estupidez revelou.
Zé
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