Há 13 anos que me retirei da militância partidária, mas sempre acompanhei com interesse as questões políticas. Não tenho tido grande vontade de intervir, apesar deste desgoverno do bloco central, que tem teimado, ao longo de todos estes anos, em empurrar-nos para baixo, não nos deixando sair do pântano que vitimou os mais capazes e vai matando, a pouco e pouco, o próprio país. A minha intervenção tem-se limitado a comentários esporádicos no blogue “Deleites Pensamentos”. Por coincidência, fiz ontem um comentário em que defendia a coragem que parecia demonstrar Sócrates para tomar as medidas necessárias, com o senão do meio recuo na questão das reformas dos políticos. Acordo hoje com o escândalo da legalíssima acumulação de reforma milionária, por seis anos de trabalho no Banco de Portugal, com o pobre ordenado de ministro, com a agravante de a lei orgânica que permitiu triplicar o ordenado dos dirigentes ter sido proposta e aprovada no mandato da direcção do BP, da qual esse ministro fez parte. Eu, no comentário que referi, até defendi as altas remunerações para os titulares de cargos públicos, para se poder cativar gestores competentes, que de outro modo optariam sempre pelo sector privado. Mas a questão que aqui se põe é moral e tem as mais graves consequências políticas. Por uma questão de coerência, esse senhor ministro devia ter dado o exemplo. Para manter a autoridade, no momento de pedir sacrifícios e defender o combate aos privilégios, tinha forçosamente de prescindir da reforma do BP, que, embora sendo legal, só o será até deixar de o ser, ou seja até ao dia em que a maioria política começar a ter vergonha na cara e acabar com situações destas. Por muito mal que as pessoas pensem da classe política, deviam saber que muitos dos que passaram por cargos políticos prescindiram das subvenções vitalícias e dos subsídios de reintegração, por não os acharem moralmente justos. Uma jornalista resolveu fazer as contas e apurou que se este senhor ministro durar até aos oitenta e cinco anos, vai custar aos contribuintes nada mais nada menos que 1 milhão de contos!Mas a questão principal deste problema foi a reacção totalmente inadequada do senhor primeiro-ministro, ao dizer que isto não passa de uma campanha para o demover de fazer as reformas necessárias. Será que ele não quer ver que um ministro das finanças com tamanho “rabo-de-palha” vai pegar fogo a todas as medidas, por melhores e mais justas que sejam, e, a partir daí, ao próprio governo? Esta é a última oportunidade de endireitarmos o país, vamos deitar tudo a perder?! Só há dois caminhos: ou o senhor ministro reconhece que não deve acumular e começa já a preparar uma proposta de lei que torne ilegal estas poucas-vergonhas ou demite-se. O senhor primeiro-ministro tem que tomar uma decisão rápida, para ver se ainda salva a credibilidade de um governo apoiado num partido que, numa sondagem divulgada ontem, continua com uma confortável maioria. Essa sondagem indica que a maioria do povo português concorda com as medidas anunciadas, apesar de tão penalizadoras. Vamos desperdiçar todo este capital? Continuamos a cair nos mesmos erros da primeira república?É por isso que faço este apelo urgente: vamos todos criar uma onda de indignação através do correio electrónico, dos blogues, dos sítios, dos jornais, da rádio, da TV. Vamos passar a palavra. Vamos resolver isto duma vez por todas. Vamos obrigar o governo e a maioria a pôr todos os cidadãos em pé de igualdade perante a lei, como manda a Constituição. Vamos deixar de ser um país terceiro-mundista. Precisamos de começar a acreditar nos políticos. Não podemos chegar à conclusão de que são todos iguais. Vamos fazer o que é preciso. Acabe-se com as injustiças e os privilégios! Sinto que este é um dos momentos mais importantes da nossa História contemporânea. Passa a palavra!
Se acontecer...
Há 12 horas
3 comentários:
Ou fazem de todos nós "burros" ou então são eles mesmo "burros".Com que autoridade pode um ministro tomar medidas para combater a crise e querer acabar com a vergonha das reformas e subvenções ou outros nomes se o próprio ministro tem telhados de vidro. Deviam era ter vergonha na cara. Uma coisa tem o Sócrates mérito!A badalada vergonha que se está a verificar nestas regalias especiais que parece que muitos têm está a vir ao de cima e a ser descoberta.Muitos como o João Jardim que já não se podem esconder atrás destas regalias e por isso toda a sua irritação com a imprensa.Só espero é que osé Sócrates não volte atrás.Já agora alinho nessa do protesto geral e o meu blog no dia 10 de Junho ficará preto.Ag
Corrijo "José Sócrates"Ag
NADA É URGENTE
O meu apelo urgente não teve grande êxito e ainda bem. Foi escrito intempestivamente, foi injusto, admito. Afinal o senhor ministro até tem filhos para criar, coitado. A mulher, que é professora, como ele, até foi prejudicada pelas medidas do marido, coitada. Já chega! Se lhes tiram mais alguma coisa, ainda vamos ver a família toda a lavar os vidros dos carros nos semáforos, a ver se ganham umas moeditas, coitados. Enquanto for legal, deixemos o homem acumular rendimentos, não sejamos invejosos. Enquanto for legal, deixem o Alberto João acumular o ordenado com a reforma de funcionário público, coitado, bem trabalhou para ela. Até foi professor. Não é por ele andar a chamar filhos da p… a quem lhe quer tirar o que é dele... São direitos adquiridos, porra! Os direitos adquiridos são sagrados. É mais fácil fazer uma lei a dizer que o Alberto João não pode comer, não pode vestir, etc.
Vamos mexer nisso tudo, diz o 1º, mas porra, direitos adquiridos são direitos adquiridos, são intocáveis. Não batam mais nos funcionários públicos, como pede o Marques Mendes. Eles hão-de acabar por morrer, que morram depressa, disse o Cavaco há uns anos.
Reponham o ordenado à Fatinha, coitada, que no Brasil a vida não está barata. Enquanto for legal, ó Abreu, dá cá o meu. Sacrifícios?! Os sacrifícios não são para as castas dominantes, pelo menos para as actuais. Há direitos adquiridos! Fica para os que vierem a seguir. Quando a lei mudar e todos cumprirem, eu também cumpro, diz o ministro, eu sou um gajo como outro qualquer. Hoje em dia um ministro é um gajo como outro qualquer. Muita sorte têm em arranjar um gajo como eu para ministro, qualquer dia só arranjam indigentes. Até estou aqui por favor. Enquanto acumulei a reforma do BP com o ordenado de professor catedrático ninguém se chateou e agora só porque sou ministro…Eu até era contra o sistema de reformas privilegiadas do Banco de Portugal, mas é legal, se é legal, enquanto for legal, não tenciono abdicar nem dum cêntimo. Governar dando o exemplo?! Que estupidez! Bem prega S. Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz. O Freitas pediu a suspensão da reforma, ficando só com o ordenado de ministro? Otário! Nem merecia estar no governo, dá mau aspecto!
Manuel Martins
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