Jean-Hervé Bradol, presidente dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), declarou no “Le Monde” (6-01-05) que as somas recolhidas seriam destinadas à ajuda às vítimas do tsunami e exclusivamente para esse fim. De modo que os 40 milhões de euros seriam suficientes “tendo em conta a capacidade operativa dos MSF e da situação sobre o terreno, onde havia um grande número de operadores”, com uma chegada massiva de meios militares e civis. Os MSF querem garantir a quem contribuiu que “utilizarão bem o dinheiro e que se destinará exclusivamente para o que foi dado”.
Outras Organizações Não Governamentais (ONG) criticaram a decisão dos MSF por temerem que esta posição levasse as pessoas a acreditarem que as outras organizações não necessitariam de mais dinheiro. Também se disse que os donativos poderiam sempre ser usados para a reconstrução das zonas afectadas. Mas Bradol sublinha que uma coisa é a ajuda de emergência e outra a reconstrução. “A reconstrução de uma região, de um país depende da ajuda pública para o desenvolvimento. É uma competência dos outros Estados, do Banco Mundial, do G-8. Se pedirmos aos particulares, que já financiaram isso com os seus impostos, que os façam com os seus donativos, há que dizê-lo claramente”.
A tomada de posição dos MSF foi apoiada por outros especialistas, como Sylvie Brunel, ex-presidente da Acção Contra a Fome: “O presidente dos MSF recorda que o trabalho que há a efectuar sobre o terreno está condicionado por um lado pela capacidade operativa real das ONG e, por outro, pelos limites físicos das infra estruturas que levam a que parte da ajuda internacional se acumule nos portos e nos aeroportos sem poder ser distribuída. Por isso não faz mais que recordar uma verdade ditada pela experiência”.
Brunel adverte que, com a experiência de casos anteriores, demasiada ajuda sobre uma região danificada conduz a um “triplo risco – o desperdício, o desvio de fundos e o esquecimento das populações e dos territórios menos acessíveis, menos visíveis, de menor interesse político”.
O maremoto não vencerá a economia
Não podemos pensar tão pouco que a recuperação das zonas afectadas dependa somente da ajuda exterior. Bradol afirma que nas catástrofes naturais as populações afectadas não se mostram derrotadas e incapazes de reagir; a maioria das pessoas em perigo imediato é salva por vizinhos e parentes antes da ajuda vinda do estrangeiro; assim como não seja verdade que nessas catástrofes os cadáveres transmitam epidemias.
Na ocasião da catástrofe natural que teve lugar também em 2004 no Haiti, a delegação regional da Organização Mundial da Saúde na América manifestou-se contra os enterros em valas comuns e à cremação sem identificação. Esta prática cria mais angústia: “a impossibilidade de velar um parente próximo, a persistente dúvida sobre os desaparecidos e que o cônjuge sobrevivente ou os filhos fiquem num género de “limbo” legal, pode favorecer a aparição de problemas mentais relacionados com o desastre e com o difícil processo de reabilitação”. Em geral, “o risco de epidemias provocadas pelos cadáveres é mínimo. Os cadáveres colocam menos problemas de contágio que uma pessoa viva que esteja infectada”.
Perante as terríveis imagens dos danos materiais e a perda de mais de 150.000 vidas humanas dá a impressão de que a zona tenha desaparecido pela destruição. Mas, afortunadamente, as primeiras avaliações prevêem que o impacto económico do maremoto seja menor do que inicialmente estava previsto. Os analistas prevêem que o prejuízo económico do maremoto seja menor que o que sofreu a região na altura da gripe das “aves”, em 2003.
Os dois sectores mais afectados serão sobretudo a pesca e o turismo. A pesca não tem grande importância na economia da região, ainda que seja necessário ajudar as populações que vivem dela. O turismo tem maior peso económico, ainda que não esteja ao mesmo nível em todos os países afectados. Na Indonésia representa 2% do PIB e as zonas de maior afluência turística, como Bali e Lombok, não foram afectadas. Mais prejudicado será o turismo na Tailândia, onde se supõe que represente 6% do PIB com a agravante de o tsunami ter surgido precisamente no começo da época alta.
As economias mais afectadas serão as do Sri Lanka e das Ilhas Maldivas. No Sri Lanka, a pesca e o turismo representam menos de 6% do PIB, mas o turismo é a principal fonte de receitas. Nas Maldivas mais de metade das receitas e 2/3 da população activa dependem do turismo.
Mas por outro lado, a iniciativa de um alargamento do prazo do pagamento da dívida externa destes países pode supor um alívio. A dívida externa pública mais importante é a da Indonésia (130.000 milhões de dólares) e tem muito peso sobre as finanças do país. Depois de beneficiar de uma reestruturação da dívida com o Clube de Paris nos anos anteriores, em 2005 a Indonésia teria que fazer uma devolução importante de 3.000 milhões de dólares.
CT
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2 comentários:
Cito“triplo risco – o desperdício, o desvio de fundos e o esquecimento das populações e dos territórios menos acessíveis, menos visíveis, de menor interesse político”.Até aqui que todas as vozes deviam estar um unissomo, estão a criticar-se uns aos outros sobre a forma de a ajuda chegar às vitimas do Tsunami.É bom que chegue e não haja desvios, porque só assim se começa a acreditar na solidariedade entre povos através das suas organizações.Ag
Apenas para deixar um grande beijo! BLUE SHELL
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