A propósito do mais que provável vencedor da noite dos Óscares, “Mar Adentro” de Alejandro Amenábar (na categoria de Melhor Filme Estrangeiro), e por saber que isto vai levantar de novo a polémica em torno da questão da eutanásia, antecipo-me com este post.
Quem defende a legalização da eutanásia impôs um slogan autoritário e preciso que afasta autenticamente a quem se opõe com objecções jurídicas, filosóficas ou morais. Refiro-me, claro está, à expressão “direito a morrer dignamente” que os defensores da eutanásia utilizam como um eufemismo e cujo uso já contaminou a linguagem coloquial.
Quando dizemos “direito a morrer dignamente” ditamos, por pura e simples eliminação, que aquelas pessoas que decidem suportar a dor ou os impedimentos físicos morrem “indignamente”. Assim se estabelece, com esta sumária caracterização que permitem as imagens, no recente filme de Amenábar: se em verdade o propósito do filme tivesse sido – como realça a publicidade – celebrar a capacidade decisória do homem que resolve soberanamente se a sua vida merece ou não ser vivida, a opção da personagem interpretada por José Maria Pou ter-se-ia mostrado tão respeitável – tão digna – como a do protagonista encarnado por Javier Bardem. Mas, em vez de ajudar a compreender, na sua diversificada complexidade, as diversas atitudes com as que uma pessoa agonizante ou maltratada enfrenta a sua própria morte, o filme incorre num maniqueísmo demasiado selvagem, caricaturizando a personagem que prefere continuar a viver e a elevar aos altares da santidade laica o que decide “morrer dignamente”, à base de um “copito” de cianeto.
Cada vez que, por preguiça ou perfídia, se fala do “direito a morrer dignamente” está a confinar a um ostracismo a quem, prostrado num leito ou atado a uma cadeira de rodas, resiste ao suicídio e suporta as incomodidades… já para não falar naqueles que os assistem abnegadamente. Assim, resistir à morte, esforçar-se por viver e sobrepor-se ao sofrimento pode converter-se numa “indignidade” própria de “gente esquisita”, e quem professa esta forma de coragem acaba por ser qualificado de fardo que a sociedade carrega com desgosto e fastio. Hoje conformamo-nos em aprisioná-los num “gueto” de “indignidade”, talvez amanhã arbitremos os mecanismos legais para lhes administrar por “obrigação” uma morte “digna” e “sem dor”.
CT
fevereiro 25, 2005
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15 comentários:
Caro Carlos,
Este post é notável, na abordagem inteligente que faz de algumas das questões relacionadas com a eutanásia, ou o direito à morte digna, que tantas vezes nos entram em casa, por via dos media.
É claro que hoje vivemos na ditadura do politicamente correcto, frequentemente imposto pelos meio, que em lugar de intermediários, frequentemente assumem o papel de agentes. Acredito que o combate contra o politicamente correcto é um imperativo, em particular quando o politicamente correcto não é mais do que aquilo alguém com capacidade mediática decide que, num determinado momento, passou a ser "fashionable", e merece ampla publicidade.
Aceito que na discussão da questão da eutanásia, há muito de fashionable e politicamente correcto, mas penso que quando as questões envolvem situações relativas a pessoas concretas, reais, é menos aceitável que se preguem princípios a que os outros, e não apenas nós, estão obrigados.
Não partilho a visão de que a escolha de quem não quer a eutanásia, sujeitando-se a uma vida de dor ou de impedimento físico, seja classificado, à hora da morte, como alguém que morre indignamente, só porque para os outros, os que preferem a eutanásia, o fazem pedindo uma morte digna. O que me parece relevante, hoje em dia, é que cada um assuma as suas escolhas e viva a sua vida de acordo com essas escolhas, de uma forma livre. Essa escolha, em minha opinião, deve estender-se à forma da morte, nos casos em que, por qualquer razão, a vida deixa de ter a qualidade que quem a vive entende como a mínima possível. E é aqui que está o cerne da questão - na definição de que qualidade é essa, na definição do que é "digno" para uns ou para outros! Para além disso, o termo "dignidade", neste contexto, acaba por ser mais um eufemismo, do que outra coisa qualquer.
Quando confrontado com situações como as da Ramón San Pedro (creio ser esse o nome), fico muitas vezes a pensar se não tomaria a mesma decisão, se estivesse no lugar dele. E a conclusão é a de que, muito possivelmente, tomaria. É óbvio que uma opinião dada desta forma tem um grande óbice: é dada por quem não vive a situação. E as coisas mudam tantas vezes quando somos nós que temos que defrontar, realmente, aquilo que antes só imaginávamos!
Em resumo, sou defensor da liberdade de decisão individual nesta situação. Sou, no entanto, completamente contra a catalogação depreciativa de quem pensa de modo diferente. Se aceito que se possa escolher a morte digna, penso que isso não deixa de tornar exigível o respeito por quem escolhe, como acontece na maioria dos casos, viver uma vida dura, com dor, ou na confrontação diária com a "inutilidade" da sua própria vida, inutilidade essa que resulta da confrontação com o que essa vida foi no passado!
Só uma correcção ao post inicial - onde está "É claro que hoje vivemos na ditadura do politicamente correcto, frequentemente imposto pelos meio (...)",
devia estar
"É claro que hoje vivemos na ditadura do politicamente correcto, frequentemente imposto pelos media (...)"
Na generalidade concordo com o comentário do Rui, em particular quando ele afirma "O que me parece relevante, hoje em dia, é que cada um assuma as suas escolhas e viva a sua vida de acordo com essas escolhas, de uma forma livre.". Discordo, no entanto, quando dá como um dado adquirido (como de resto também o faz o Carlos no seu post) que quem defende a eutanásia afirmando defender o direito a uma morte digna, queira necessriamente dizer que quem opta por viver escolha uma morte indigna. Ambas são opções dignas e respeitáveis... mas ambas são opções. Morte indigna é a daqueles que optando por "morrer à base de um copito de cianeto" (como tão delicada e respeitadoramente afirma o Carlos no seu post), são obrigados a viver por imposição de alguns que hipocritamente se arrogam defensores de um verdade que julgam ser universal e moralmente superior. E assim, com a devida vénia, concluo citando mais uma vez o Rui: "sou defensor da liberdade de decisão individual nesta situação. Sou, no entanto, completamente contra a catalogação depreciativa de quem pensa de modo diferente.". E deixo uma questão: O post do Carlos não é, todo ele, uma catalogação depreciativa de quem pensa de modo diferente??? Jorge Lourenço
Jorge,
Não percebo porque dizes que eu dou como dado adquirido que quem assume a eutanásia como morte digna queira dizer que quem não escolhe a eutanásia terá uma morte indigna. Admito que, de uma forma directa, não o escrevi. De qualquer modo, indirectamente, penso que isso pode ser presumido por algumas das coisas que escrevi, como por exemplo:
"Não partilho a visão de que a escolha de quem não quer a eutanásia, sujeitando-se a uma vida de dor ou de impedimento físico, seja classificado, à hora da morte, como alguém que morre indignamente, só porque para os outros, os que preferem a eutanásia, o fazem pedindo uma morte digna."
O "não partilho", neste pedaço de texto citado, é no sentido de dizer que não partilho a visão do Carlos sobre esse assunto. Percebo, no entanto, a necessidade de clarificação dessa questão, que é que , aliás, o que para mim ressalta do post original: de tanto se ouvir falar na morte por eutanásia como a morte digna, pode ficar implícito que a outra não o é. E isso é algo que merece ser contestado, até porque o sofrimento físico e psicológico de quem não escolhe a eutanásia é algo que merece ser respeitado, do ponto de vista humano.
o direito à vida e o direito à morte... ambiguidades
A Eutanásia não pode ser vista ou decretada como uma “morte digna” por quem a pratica ou para aqueles que não a praticam como tendo uma “morte indigna”. Nem tão pouco se pode dizer que é “politicamente correcto” dizer assim ou fazer daquela forma. A Eutanásia como forma de antecipação de morte de doentes incuráveis, para lhes aliviar o sofrimento tem que ser encarada e ser tomada por quem escolhe livremente a sua forma de viver. Para tomar uma posição neste caso, ela também depende do distanciamento em relação ao doente, porque as coisas mudam tantas vezes quando somos nós que temos que defrontar, realmente, aquilo que antes só imaginávamos! "Sou defensor da liberdade de decisão individual nesta situação”.
Ag.
O direito à vida e o direito à morte têm que ser equacionados da mesma forma? anónimo
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Sou Testemunha de Jeová, e agora que tenho a vossa atenção, digo:
Sou a favor do direito de ter dignidade. Quer na vida, quer na morte... Isto é, a poder livremente escolher as minhas opções.1ºSe continuo a viver a sofrer indignidades e dores sem que o meu corpo tenha a capacidade de me sustentar por si só. ( Desistir de lutar é um factor decisivo no processo da cura).
2ºSe desejo que nasça um bébé com defeitos congénitos. (Sou contra o aborto, excepto no caso de a morte dos 2, mãe e filho for inevitável).
3º Se desejo ou não salvar a minha vida através do uso de Sangue e/ou seus constituintes...
Dignidade, para mim, é poder escolher...
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