A crise no Governo tem agentes que merecem ser destacados. Estão de parabéns todos os “competentes” do PSD, que, do alto do seu camarim não deram tréguas a Santana Lopes. Estão de parabéns todos os que pressionaram o Presidente da República, no sentido da dissolução do Parlamento, desde a ida de Durão Barroso para Bruxelas. Está de parabéns Henrique Chaves pela forma “amiga”, reconhecida e de grande sentido de Estado com que apresentou a sua demissão de ministro. Estão de parabéns os partidos de Oposição, e demais vozes críticas, que não aceitaram a decisão do Presidente da República em Julho. Estão de parabéns os que apostaram, desde a primeira hora, na queda de Santana Lopes. Está de parabéns Jorge Sampaio, que usa “a bomba atómica” antes de terminar o seu mandato. Dissolver o Parlamento é o acto que vai ficar registado como o mais importante do seu “reinado”, talvez o único com que será identificado daqui por alguns anos. Ou seja, estão de parabéns todos os que desejavam eleições legislativas antecipadas, não aceitaram que Santana Lopes “lhes passasse à frente” e chegasse a primeiro-ministro antes deles, e, está de parabéns Mário Soares, que recebe a “melhor”prenda de aniversário pelos seus 80 anos. Mário Soares, que há quinze dias no Porto, quase apelou a uma revolta popular, poderá agora dar o seu precioso contributo a José Sócrates, no sentido de lhe ensinar como pode ser candidato a primeiro-ministro, de preferência, sem “teleponto”. Naturalmente que houve erros, e alguns de estratégia, que não deveriam ter acontecido. Claro que nem todos os membros do Governo tinham provas dadas de poder ser a melhor escolha. Sabe-se que havia agitação dentro da maioria, confusão e atropelos. O Presidente da República fez questão de justificar esta sua decisão com base nos sinais de desagregação governamental e crise crescentes. Parece-me que viu mais do que isso. Com as últimas sondagens poderá ter visto a hipótese de levar o seu PS para o Governo. Portugal deve estar sempre na primeira linha das preocupações do Governo e do Presidente da República. Penso que, tal como fez em Julho, ao chamar Santana Lopes para governar, ontem, um dia antes do previsto, Jorge Sampaio, ao decidir pelo dissolução, pensou ser esta a melhor solução para o País. Com uma diferença; desta vez não precisou de chamar a Belém toda a gente para se aconselhar...!2005 vai, pois, ser ano de dois actos eleitorais. Até às legislativas teremos apenas Governo de gestão: abranda o investimento público, o orçamento é gerido por duodécimos, páram as negociações de aumentos para a função pública.
Para País em crise, não está mal!
Nota: Ouvi a comunicação de José Sócrates. Fixei o nome de António Vitorino.
Luis Silva
1 comentário:
Pareceu-me ver, ao longo do texto, alguma ironia na distribuição dos parabéns aos diversos actores do processo.
E a sua conclusão só veio confirmar aquilo que eu já previa. Não gostaste do desenlace mais que previsto para uma situação calamitosa aos olhos de toda a gente.
As tuas conclusões não estão inteiramente certas e, para serem evitadas, nunca deveria haver eleições.
O investimento público deverá ser aquele que está previsto no orçamento de 2004 e aquele que vier a ser aprovado para 2005 até que surja um orçamento rectificativo.
O orçamento não vai ser gerido por duodécimos desde que o de 2005 seja aprovado na próxima semana.
As negociações para os aumentos da função pública já tinham sido concluídas por Bagão Félix (2,2% salvo erro) e o aumento será aplicado em Jneiro se o orçamento de 2005 for aprovado.
Concluindo: Onde está a crise? Vai ser pior do que a que já estava instalada, onde, para além da esmagadora maioria dos portugueses, também as associações patronais e dos trabalhadores eram pelo despedimento colectivo deste (des)governo?
Um abraço.
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