dezembro 10, 2004

Democratização da Cultura

Uma curta passagem apenas para vos deixar este pequeno texto para reflexão:
«Democratizar a cultura é uma necessidade, mas é também uma expressão perigosa se for interpretada como uma simplificação das ideias e das formas que as banalize para as tornar acessíveis a todo a gente. Isso não será democratizar a cultura, mas sim corrompê-la e substituí-la por algo que é uma sua caricatura, um seu reflexo ridículo. A democratização da cultura só pode ser entendida como a criação de condições que facilitem e promovam o acesso aos bens culturais de quem está disposto a fazer o esforço intelectual indispensável para desfrutar, aprender e enriquecer a sua própria vida graças a esses mesmos bens. Ela também significa, além disso, a garantia de que ninguém, sejam quais forem a sua origem ou condição social, será impedido de exercer esse direito.»
Mário Vargas Llosa, «A cultura e a nova ordem internacional», in Globalização, Ciência, Cultura e Religiões, ed. da Fundação Calouste Gulbenkien.
ET

8 comentários:

Anónimo disse...

Depois disto, só falta dizer... que vai ficar tudo na mesma. Os intelectuais não prescindem do seu património.

Anónimo disse...

Pois... e o mundo era um local perfeito.
A nossa "elite" intelectual lá no fundo continua a achar que a cultura não é para o "povinho".
Quanto mais sabes mais queres saber e aí a coisa complica para aqueles que fazem parecer que sabem tudo acerca de tudo.
Para terminar entendo que a democratização da cultura passa essencialmente pela mudança de mentalidades.
David

Anónimo disse...

Cito "A democratização da cultura só pode ser entendida como a criação de condições que facilitem e promovam o acesso aos bens culturais" é o significado da cultura democrática.Não nos podemos esquecer que ao longo dos tempos a cultura sofreu ddiversas interpretações conforme o lugar, o tempo e o governo vingente.No tempo dos Romanos ou Gregos tinhamos uma forma de cultura diferente.Nos tempos mais actuais o Bloco Soviético ou mesmo Portugal encaravam a cultura de modo diferente daquilo que achamos hoje.
Ag

Anónimo disse...

Para Micróbio: todas essas observações são extremamente pertinentes e fazem-nos pensar. O importante não é “democratizar a cultura”, enquanto aculturação forçada que nivela tudo segundo um padrão supostamente de qualidade superior... trata-se sim, de democratizar o acesso aos bens culturais, e possibilitar que cada um de nós possa aceder a eles e não apenas uma determinada elite endinheirada. Não se trata aqui de definir o conceito de cultura enquanto identidade de um povo, noção muito mais vasta que abrange todas as formas e expressões figurativas ou simbólicas dos usos e costumes de uma comunidade, e onde não podemos fazer distinções valorativas de importância hierárquica. Por isso se deve confundir aquela intenção (de criar condições para que todos tenhamos hipótese de usufruir, se assim o desejarmos, de bens culturais diversos – exposições, espectáculos musicais, teatro, bailado, cinema, etc.) ao depreciativo “elevar o nível cultural das massas”... ET

Anónimo disse...

Para Zé: que eu saiba ninguém gosta de prescindir daquilo que é seu. Seja intelectual ou não. Talvez partilhar seja a palavra que alguns têm que aprender. ET

Anónimo disse...

Para Beatas: têm toda a razão. A ideia de Vargas Llosa pode estar longe de se concretizar, é verdade, mas não deixa de ser um objectivo pelo qual devemos lutar. Na minha opinião, democratizar o acesso à cultura passa por disponibilizar parte desses bens de modo gratuito para que os mais desfavorecidos (economicamente falando) não fiquem privados de os usufruir... que a falta de dinheiro não seja impedimento para aqueles que se mostram interessados e disponíveis. ET

Anónimo disse...

Para David: «democratização da cultura passa essencialmente pela mudança de mentalidades». Concordo 100%. ET

Anónimo disse...

Para Agostinho: tudo na vida evolui. E as várias interpretações da cultura sedimentam uma certeza – que o conhecimento não é só para alguns. ET